sábado, 27 de fevereiro de 2010

Mr, B

Hoje vou contar uma história. Sobre o Mr. B.

A primeira impressão que tive ao olhá-lo pela primeira vez foi de que tinha um ar simpático e bem disposto.
Achei-lhe piada.
Com o passar dos dias (bastante poucos dias) e com a interacção de amigos fomos falando mais e fui reparando em pormenores. A maneira como falava, o cabelo, a fisionomia, os olhos com uma cor constante e linda, o narizinho engraçado e, o que mais me fascinou, as coisas de que falava.
Não, Mr. B não era uma pessoa normal.
Conseguia manter conversas e falava de coisas que eu gostava. Coisas que eu gostava e nem sabia. Acima de tudo não tinha medo de falar de coisas que podiam ser parvas, não me julgava por ter conversas pouco femininas, ria-se comigo. Tinha um sorriso tão bonito com aqueles dentes tão alinhados.
Lembro-me de um episódio engraçado sobre Mr. B: um dia apareceu com uma ferida na mão e quando lhe perguntei como a fizera respondeu-me que não se lembrava. Ao princípio achei tão idiota... Como seria possível não se lembrar? Estava em sangue, ele não cuidara sequer dela. Pode não fazer sentido, mas uma personalidade brilhante começu a formar-se na minha mente em relação a Mr. B.
Com o passar de mais alguns dias fui começando a descobrir mais, a desenhá-lo na minha cabeça: ia a pé para casa à hora do almoço porque achava que não valia a pena gastar dinheiro em autocarros, sabia tocar quase tudo (quem sabe tudo?), gostava de poesia, tinha piadas parvas mas com piada, era teimoso a um ponto adorável, gostava de "comandar". Sim, isto fascinou-me um pouco, era insistente e ao mesmo tempo conseguia sempre que lhe dissesse que sim... Parecia-me tão provocador o sorrisinho que ele punha para me pedir por favor e isso ao mesmo tempo era sexy.
As coisas desenvolveram-se, fui flutuando na realidade, às vezes nem sabia se estava a sonhar. Era tão querida a maneira como ele me dizia que às vezes as coisas não tinham piada sem mim, como odiava magoar-me e o medo que tinha de me perder. Quando fazia asneiras ficava com um olhar tão triste e eu só pensava para mim mesma como seria possível existir alguém tã bonito, amável e sincero ao mesmo tempo...

Redifinimos todas as definições possíveis.

Ao fim de meses uma sensação estranha começou a penetrar o paraíso. Como um alerta de karma, chegou o caos.
Vi Mr. B transformar-se. Tão lentamente que era assuatador e dizia repetidamente para mim mesma que não era verdade. Que eu estava a ser demasiado feminina e teria de expulsar a paranóia da minha cabeça.
Até que chegou o dia que eu já esperava (esperando que não viesse nunca) à tanto tempo. O furacão entrou no nosso mundo sem dó nem piedade. As desconfianças, as palavras que magoavam, o lavar da roupa suja...
Não havia solução, foi bem visivel desde a primeira lágrima que soltei.

Mas eu não queria desistir de Mr. B. Ele era O Mr. B. E o Mr. B mais uma vez voltou a ser a criatura adorável que não quis perder de todo as coisas, continuei a ser a única pessoa que podia entrar no mundinho dele e eu via nisso uma chama. Aguentei com toda a dor engolida, com cada lágrima entupida, com sorrisos para que Mr. B não abandonasse definitivamente a minha vida.

E com todo este sofrimento esqueci-me completamente de que ele estava a mudar. De como o seu olhar já não era tão meigo, a cor dos olhos já não era tão constante e às vezes escurecia. Como se foi apagando todo o brilho inicial (início que se prolongou durante tantos dias incontáveis) da sua pessoa. Como ele estava a ficar... Normal. Mas eu não queria ver isso. Não, eu não queria ver que Mr. B estava cada vez mais influenciável, que tudo aquilo que me tinha cativado nele estava a desaparecer só para que ele se pudesse encaixar no mundo banal. Como de repente eu já não era suficiente para ele estar feliz.

Continuei a lutar e a aguentar. Guardava toda a dor do dia num canto e despejava-a à noite, às escuras, quando tinha a certeza de que ninguém podia ver.

De vez em quando Mr. B conseguia voltar a si, conseguia ser ele e eu voltava a ver aquele sorriso perfeito, aquele olhar tornurento. Os abraços apertados e sentidos...

Escasso.

Cada vez mais escasso.

Até que se escapou. Mr. B perdeu-se para sempre sem eu saber para onde ele tinha ido. A única coisa que ainda tenho real em mim de Mr. B é a culpa. A culpa por ter permitido que deixasse de me falar, que deixasse de se importar sequer com a nossa amizade. Por ter deixado de ter a mínima importancia para ele e deixasse sequer de existir na sua mente, nos seus pensamentos. Agora Mr. B é uma memória, tão longínqua que já não a consigo localizar. E eu não sou mais, nem mesmo, o presente de Mr. B.

Já não preciso de esperar até ao anoitecer, porque já não posso sequer tentar ser simpática.

Fugidio, olhar por cima da cabeça ou para o chão, a não fazer conversa, a fazer-me sentir um nojo e que afinal sou uma idiota e o meu mundo é tão ou mais idiota que eu. E ainda bem que Mr. B se apercebeu disso a tempo e enterrou o "idiota" mundo dele para sempre.

E assim deixo o meu último contacto com ele e parte de mim continuará no sótão à espera do dia em que Mr. B volte a dizer "Ey, tu importas."

Mr. B, estou sinceramente mais do que feliz por saber que tens o que querias ter.

(Last post by Dan)