quarta-feira, 1 de julho de 2009

Mini-história do País do Vampiro Meio Roxo

Não notas, mas o teu olho abriu-se ligeiramente e o pequeno feixe de luz que consegue chegar até ti parece demasiado intenso para o total do dia em si. Voltas a fechar rapidamente e perguntas-te que horas serão para estares já acordada, quando toda a gente sabe tão bem que o teu sonho não te estava a desiludir. Acordas, é inevitável, agora que todos os ruídos lá fora te gritam que a tua cama já não é assim tão confortável. Mais uma vez, sentes-te comandada pelo que te rodeia e não pela tua vontade, descobres que não estás sozinha no mundo apesar da inutilidade de tantos seres à tua volta. Levantas-te, fazes as coisas básicas que toda a gente faz, sentes-te cada vez mais numa rotina na qual nem sequer caiste, foste empurrada. Sentes aquele embargar de garganta, aquela sensação não bem-vinda e nojenta de lágrimas a afluir nas pálpebras, só consegues ficar ainda mais irritada contigo e uma única palavra se esconde nas esquinas da tua caixa colorida: Porquê? Não há resposta, nem sequer deveria existir um porquê na vida das pessoas, quanto mais dois ou três. Fechas os olhos, lembras-te, sabes que o estás a repetir demasiadas vezes na tua cabeça e, enquanto dói, pedes que ninguém se lembre de te interromper. É o calar suspiro da eternidade amante... Olhas lá fora, o sol brilha e tu sentes-te radiante, sentes-te capaz, vai ser hoje que vais conseguir! Vês duas nuvens que lembram duas pessoas a se exprimirem e pensas que só pode ser um sinal. É hoje! A confiança que depositas em ti mesma parece demasiado grande para caber dentro desse pequeno corpo, mas tu arranjas maneiras de fazer entrar. Sais à rua enquanto tens um balão dançante em cima da tua cabeça, prevendo os teus planos. Não queres saber. A rua, cheia dos mais desfamiliarizados rostos, acena-te em unissono e diz-te "És capaz! Não desistas!". Quase estás no teu destino, o ceú começa a encobrir-se e tu ficas nervosa. Para onde foi o sol, os teus sinais positivos, a tua esperança? Tentas ignorar o compasso do coração, enquanto o sol espreita de novo e tu desaceleras. É neste preciso momento, falta-te 1% para completares o teu objectivo, quando finalmente não tens que te demorar mais e dás o último passo com o sorriso mais radiante que te lembraste que tinhas no bolso de propósito para aquela ocasião, já estás completamente encharcada. Naquele dia, a partir daquele momento, nunca ninguém saberia que o céu alguma vez tinha sido azul e aquele teu sonho, a bandeirinha da vitória da meta já nem te consegue ver pelo negro que o dia se tornou. Choras, pensas que talvez se gritares te conseguirá ouvir, gritas, gritas, gritas até ficares sem voz. Não consegues ver nada pelo inchaço dos olhos vermelhos. Aí, uma grande frase de chumbo desde dos céus, viras-lhe as costas, mas ela é destinada pura e simplesmente a ti e não a podes ignorar: O sonho não é certo.

3 comentários:

  1. Vais ser capaz.
    Tu és o Macho Alfa. Eu não, eu quase que chorei a ler o texto.

    Abrações [[]]

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  2. Não te preocupes, porque esses pequenos momentos de sol vão sendo cada vez maiores a cada dia que passa. Até que terás aquele dia em que a única altura em que o sol te deixa é para dar lugar á lua, que é igualmente tão bela e luminosa, mas diferente á sua maneira ;)

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  3. Também a minha vida é recheada, não só de "Porquês" mas também de e 'se's. Mas, de uma forma, ou outra, ambas acabamos sempre por dar a volta por cima.
    Já o assisti, já o vivemos. E voltará a acontecer. *

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